Nos últimos meses tenho acompanhado desiludida os passos que
a política e o judiciário brasileiro estão tomando. O último episódio talvez
mais grave para mim foi a proibição de que o povo possa acompanhar os trabalhos
da casa do povo, na casa do povo, uma casa eleita para representá-los. Estou
falando da Câmara Federal, que essa semana aprovou em comissão FECHADA para o
povo a Lei que reduz a Maioridade Penal, e que já noticiou que a mesma medida
será tomada na apreciação em plenário, e retirou do Projeto inicial a
possibilidade de consulta ao povo sobre o tema.
A tempos vemos magistrados querendo legislar, promotores
exigindo ter poderes de polícia, e ministros se esquecendo da Constituição e
acusando réus sem provas. Agora temos parlamentares, em especial dois, o Presidente
do Senado – Renan Calheiros e o Presidente da Câmara – Eduardo Cunha, tomando
para si as competências do Executivo, manipulando pautas e apreciando somente
aquilo que lhes convém, usando o público em benefício do privado.
Confesso que todas essas atitudes me amedrontam, pois são
uma ofensa à democracia, ao pacto federativo e a interdependência dos poderes,
direitos adquiridos com muito esmero e à custa de algumas vidas e sonhos. Sonhos
estes de pessoas que ainda acreditam no país e por isto ainda estão a lutar por
ele.
Hoje, só nos resta fazer um apelo a estes senhores, para que
eles não se aproveitem de um momento de crise, onde o povo pede mudanças para legislarem
em causa própria, para fazerem uma Reforma Política para inglês ver, uma
reforma que não traz nenhum benefício a população, que atrapalha o desenvolvimento
de políticas públicas de longo prazo, que facilita a corrupção, o desvio de
dinheiro dos cofres públicos para financiar campanhas eleitorais, que elege não
representantes do povo, mas sim representantes dos seus próprios interesses.
Senhores, não criminalizem nossos jovens, sem antes proporcionar a eles escola,
saúde, moradia e segurança. Não os culpem por terem nascido sem oportunidades
em um país que ainda não pode lhes trazer igualdade. Um país que está
escolhendo investir mais em presídios que em educação.
Peço sobre tudo que não sejam “levianos” ao acusarem uma
presidente eleita democraticamente por todos nossos problemas. Por uma crise
que é reflexo da Crise Mundial. Ao contrário, rogo aos senhores que a ajudem a
nos salvar, que a ajudem a erradicar a miséria, a fome, o desemprego, a trazer
a igualdade de gênero, de sexo, de oportunidades. O sucesso da Presidente Dilma
é o sucesso do Congresso, da sociedade, do povo brasileiro.
Este não pode mais ser um país de muitos onde poucos decidem
e se beneficiam. Este é um país onde os representantes foram sobre tudo eleitos
pela classe C e D, que representam a maioria e que chegaram a este patamar
juntamente com o avanço econômico e social do Brasil, e estes anseiam ser
ouvidos por seus representantes. Por isto senhores, amem ao povo brasileiro, ou
os deixem eleger quem os ama.
Eu posso dizer que sou negra, filha de mãe solteira, jovem,
mulher, e que por tudo isto seria mais uma que tinha tudo para dar errado. Mas,
as mudanças das últimas décadas me tornaram: uma negra com as mesmas
oportunidades que brancos, uma filha de mãe solteira que hoje pode ajudá-la,
uma jovem cheia de sonhos e projetos, pois hoje me é permitido sonhar e planejar,
uma mulher que ainda não se sente proporcionalmente representada, mas que sabe
que o fato de ter UMA PRESIDENTA eleita e reeleita significa um avanço imensurável
na luta para a igualdade de sexos, e que hoje apesar de tudo, se encontra no
topo da pirâmide no quesito educação, saúde e segurança.
Então eu só tenho certeza de uma coisa, todos vocês podem
desistir do Brasil, mas eu com minha pequena contribuição não desistirei dele.